Por Felipe Barros
23 de junho de 1968. Revoltados com o regime militar – imposto em abril de 1964 – estudantes se reúnem no bairro da Cinelândia, Rio de Janeiro. Acompanhados de perto por mais de dez mil militares, o movimento estudantil liderou a maior passeata registrada na história do Brasil até aquele momento. Artistas, políticos e acadêmicos aderiram à massa, formando um grande bloco de resistência contra a ditadura. Ao fim do protesto, 100 mil pessoas exigiam – em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – a queda do regime.
O ano de 1992 representou uma quebra de paradigmas hierárquico-sociais. Estes, pétreos e delineadores de uma história que, pelo interesse de poucos, se mantém. Muitos, no entanto, recusam a marcha cíclica dos acontecimentos; caso dos caras-pintadas. Com os rostos em verde e amarelo, jovens em diferentes regiões do país saíam às ruas, exigindo o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello (acusado de enriquecimento ilícito, evasão de divisas e tráfico de influência). A pressão exercida era insustentável; Collor renunciaria em 29 de dezembro de 92.
Recentemente, centenas de pessoas, revoltadas com o aumento abusivo dos combustíveis, dirigiram-se aos postos – em Salvador, Brasília, Londrina, por exemplo – abasteceram seus carros com uma quantia ínfima e usaram seus cartões de crédito. As transações causaram prejuízos aos donos dos estabelecimentos. O movimento foi articulado pelo Facebook e reuniu muito mais revoltados virtuais do que os de “carne e osso”.
A adesão poderia e deveria ser muito maior. A chamada “Geração Y” tem, hoje, mecanismos muito mais eficientes e atrativos para se unir e reivindicar o que é seu por direito. Claro que você que lê, pensa: “comparação tosca, aumento na gasolina com ditadura militar”. E aí se revela o grande problema dos Y’s; somos inertes, e o sujeito oculto me inclui nessa.
Somos ignorantes em relação a tudo que nos circunda e tem consequência direta na maneira como vivemos. Seja política, economia ou até aspectos mais simples, como nossos direitos e deveres como cidadão. Somos levados a maldizer os marginalizados e acreditar em conceitos alheios e sem fundamento. Temos o costume de dizer que, em tempos como a ditadura, existia algo nobre para se lutar contra; essa luta não é mais necessária. Os inimigos continuam por aí, mas tomaram silhueta diferente.
Contanto que tenhamos todos ótimos empregos, nada disso importa, não é?